Quando desvio
o olhar demorado de uma imagem,
recebo a violência do sol na retina.
Magoa-me e queima-me
ver o deslustre e o embuste externo de mim.
Escorrego e caio
nos imaginados afetos e apoios
quando os passos dos outros,
dessincronizados dos meus,
me induzem num abismo desprotegido e vão.
Ainda vivo,
quase morro na sombra desagradável
de artes emaranhadas
que a próxima aragem dissolverá
e a noite talvez ilumine os seus vestígios.
Os contrastes ferem-me,
mas alimentam-me no doloroso calvário
do meu crucificado aprender.
© Jaime Portela, Junho de 2025